“Não foi difícil adaptar-me”

Fui para Lisboa com a idade de 16 anos. Arranjaram-me para lá uns tipos conhecidos, que estavam lá em Lisboa. Eram do Monte Frio, uma terra, que pertence aqui. Já morreram. Pedi-lhes e eles levaram-me. Fui na carreira. Não há aí carreira? Não há aí camionetes? Daqui para Coimbra há camionete todos os dias. Já há camionete. Depois apanhou-se o comboio em Coimbra.

Havia lá muita gente da Benfeita, em Lisboa, mas aquilo era grande. Uma pessoa não ia lá agora saber se lá estavam 20, se 30, se 40, se 10. Lidava com alguns, com outros não lidava. Eles iam para lá, porque aqui o meio era pobre e uma pessoa ia procurar. Muitos não vão daqui lá para fora? Para ver se ganham mais dinheiro? Então! A gente tínhamos que andar naquele tempo. Agora, isto mudou. Mas, no tempo do Salazar, era um caso sério! Houve muitos que passaram fome. Passaram fome! Não tinham dinheiro para gastar.

Não foi difícil adaptar-me. Os primeiros dias é mau, porque uma pessoa no movimento está sujeito a perder-se, mas em lá estando oito dias, uma pessoa, sendo nova, fica tudo na cabeça. Ora, agora ao fim de velho é que é mau.

Vivi em diversos lados. Vivi sozinho. Então ia com quem? Fui sozinho. Estive na Quinta do Coleginho, estive na Calçada de Arroios. Depois, mudei-me para outro, porque a renda era mais barata. Uma pessoa procurava sempre é onde era mais barata a renda. Uma pessoa se pudesse pagar 50, não pagava 100. Isto é assim. Uma pessoa se quiser tratar da vida é assim.