“Para escrever, era canetas e lápis”

Aos 8 anos, já andava na escola. Era aqui na Benfeita. Agora, está diferente. Arranjaram aquilo. Antes, era um salão. Não tinha divisões. Tinha carteiras e estavam lá os alunos. Naquele tempo, havia muita criança. Apanhava aqui a freguesia toda. A freguesia aqui é grande. Agora, há pouca gente. Já morreram quase todos.

Para escrever, era canetas e lápis. Mas isso já lá vai há tantos anos... Agora é que eu já me lembra? Eu estive lá e só fiz exame da terceira. Não quis fazer da quarta. O professor queria-me levar ao exame e eu disse:

- Não, não quero.

Já andava farto de escola. E ele uma vez deu-me lá. Nunca me esquece. Quando estava para fazer exame, no livro que teria metais, por causa de dar um erro, deu-me algumas dez reguadas. Disse:

- Já não dá mais!

E depois já não fui. Talvez fizesse mal, mas eu para mim sei mais ou menos ler. Mal, mas... Agora, já a idade assim não o permite. Uma pessoa, quando é nova, é uma vida. Agora, quando uma pessoa já tem idade, às vezes, já nem vê bem as letras. Eu no outro dia nem via as letras já. Não conseguia ler nem nada. É assim a vida.