“Quando não sabíamos, tínhamos que ir às laranjas”

Andei na doutrina. Era na praça. Havia ali umas senhoras que davam a doutrina e havia outra no oiteiro que também ensinava. Não é como agora. Era uma doutrina complicada, muita coisa para a gente aprender. Era a doutrina toda! O Pai Nosso, a Salve Rainha, os Mandamentos da Lei de Deus, as Obras de Misericórdia… Só vendo no catecismo é que posso dizer isso. Depois, a gente íamos para a missa e tínhamos que dizer a doutrina ao senhor prior. E, às vezes, algumas não sabiam, ele mandava-nos às laranjas. Quando não sabíamos, tínhamos que ir às laranjas, que era para a gente comer a laranja para ficar com mais memória, para ao outro dia sabermos melhor.

Graças a Deus, fiz a Comunhão. Ah, foi um dia como outro. Ia vestidinha de branco. Parecia uma noiva. Quem me emprestou o vestido e o véu foi uma senhora que era muita amiga do meu pai. Era ali do Pisão de Côja. Fui vestida toda de branquinho. Não levava sapatos. Havia, mas custava muito dinheiro. Tinha umas alpercatazitas. Foram forradas de cetim branco para ir toda de branco.