“Na última é que eu ia para a escola”

A escola era aqui no fundo da povoação, mas já fazia qualquer coisita quando fui. Já sabia fazer umas contitas de somar. Como comecei logo a trabalhar na loja, sabia fazer contas. Então, a gente vê e vai fazendo. A minha professora chamava-se dona Maria Cruz. Era boa senhora. Tinha lá o quarto na escola e tinha, no andar debaixo, umas galinhazitas para ter uns ovozitos. Eu nem tinha recreio! Tinha sempre que fazer em casa. Na última, é que eu ia para a escola. Ao fundo da rampa, há um becozito. Aquela casa é que era a escola. E, naquela altura, ainda não vivíamos na praça. Vivíamos numa propriedade perto da escola. Aí, é que a gente tínhamos a loja, antigamente. Havia de rapazes e raparigas. As raparigas era aqui no fundo. E os rapazes era no Areal. Onde está agora a Junta, ali é que era a escola dos rapazes. Às vezes, fazíamos récitas, fazíamos festas e andávamos todos. Era uma paródia.

Já não me lembra bem, mas não ensinavam como agora. Eram livros mais rigorosos para a gente aprender. Até se deu uma vez uma tragédia muito engraçada. Eu estava numa carteira juntamente com uma rapariga, muito minha amiga, do Sardal. Já morreu. Eu, às vezes, até lá ia ajudar-lhe a fazer a festa, quando era no mês de Setembro. Ela tinha um lenço muito lindo, encarnadinho, às pintinhas brancas, muito bonito. Ao fim, eu não pego no lenço e fiquei-me com o lenço da rapariga? Depois, o lenço não aparecia e eu com ele escondido. Se eu tivesse dado na altura o lenço à rapariga… A gente dava-se bem, mas não dei. O meu castigo que foi? A professora pôs milho no chão e eu tive que ajoelhar no milho. Ela realmente teve razão. Para que é que eu queria o lenço? Ah, mas éramos miúdas. A gente não sabia aquilo que fazia e eu tirei-lhe o lenço de brincadeira. Depois, tive aquele castigo. Ai, fiquei cá com um azar à professora e à rapariga. Às vezes, quando vinham aqui à missa ao domingo, a gente ajuntava-se e eu dizia-lhe:

- Ó Zulmira, arre gaita! Vê lá tu o que tu me fizeste! Olha que estar ali com os joelhos no milho! Ai, doeu-me tanto, tanto, tanto!

São paródias! Oh!