“Não há arroz-doce tão bom como o da Benfeita”

Às vezes, muitas pessoas já deixavam ficar o cozido feito, que era para assistirem às festas religiosas. Convidavam uns convidados para virem à festa e, quando vinham, é que comiam. Era cabrito assado, as batatas, a hortaliça, tigelada, coscoréis, arroz-doce. Antigamente só faziam arroz-doce de festa a festa. E não faziam tanta variedade. Mas agora a gente faz quando nos apetece. E eu, graças a Deus, sei fazer o comer. Não é comeres modernos, isso não faço. Mas o comer antigo, tenho jeito.

Não há arroz-doce tão bom como o da Benfeita. A gente, às vezes, no Centro de Dia, vamos comer fora. Ajuntamos com as nossas colegas, as nossas utentes. Enquanto houver arroz-doce da Benfeita, não há outro. O arroz da Benfeita é que marca o arroz-doce. Eu faço assim: pusemos uma pinguinha de água no tacho conforme a quantidade que a gente faz. Se se faz meio quilo, tem que se pôr menos. Se faz 1 quilo é que se tem que pôr mais. Depois, lavamos o arroz em três águas. Quando estiver a ferver, pomos o arroz para o tacho. Deixamos abrir o arroz na água. Depois, vamos pondo leite, leite, leite até ele precisar: 1 quilo de arroz-doce leva uns 7 litros de leite. Depois, então, pusemos o leite, deixemos apurar bem até cozer; pusemos o açúcar, um bocadinho de sal, uma casca de limão ou uma folha de laranjeira. Deixa-se apurar mais apuradinho, tiramo-lo e comemo-lo. Antigamente, era 1 litrito de leite. Ficava aquele arroz-doce a luzir. Não havia leite como agora. Era das cabritas mas, quando era no mês de Agosto, já não havia leite das cabras. O que é que a gente fazia? Fazíamos a tigelada. No lugar de pôr 1 litro de leite, púnhamos meio e depois púnhamos-lhe o resto de água. E era boa. Batemos os ovos muito bem batidinhos e pusemos já um bocadinho de açúcar a nosso gosto quando estamos a batê-los. Depois, pusemos-lhe o leite. Agora, faz-se tudo em leite. É 1 litro de leite e 1 dúzia de ovos. Mas os leites de agora também são fracos. Não é como o das cabras de antigamente. Eu bato sempre com a máquina. Depois vai para o tacho e dentro do fogão é que vai cozer.

Eu sei fazer bem estes doces. Às vezes, fazemos um leitezinho-creme, fazemos umas farófias, faço também, por causa do meu Zé Alberto, um pudinzito com ovos, uns bolinhos amarelos, o pãozinho-de-ló, um bolozinho de maçã quando me apetece... Bem, vamos fazendo alguma coisita. Dizem que o açúcar que engorda. A mim, graças a Deus, nada me engorda. Mas, agora, vai-se para os restaurantes, é só natas. Eu nunca comi um pastel de nata, nunca comi um iogurte. Nem quero! Eu não como desses bolos que têm cremes por dentro. À minha barriga não vão.