“Duas casas ligadas uma à outra”

A nossa casa era mesmo ali à praça. Aquando se corta para o café, há aquela casa alta. Eram duas casas ligadas uma à outra. Era a casa do comércio. Tinha uma portinha em baixo, onde a gente entrava, que era a mercearia, e tinha uma portinha que era para o vinho. Vive lá agora um irmão meu. Tínhamos as casas separadas. A loja do vinho era uma coisa, onde se vendia o vinho e bebida, e a loja de mercearia era outra. Mas tínhamos entrada de umas para as outras. Era proibido, mas não vinha cá a fiscalização.

Tinha a loja e tinha a escadaria para o andar de cima. Tinha três quartos no andar de baixo e uma sala. E tinha outros três no andar de cima e outra sala, onde a gente comia e pernoitava, onde a gente só ia dormir, mais nada, porque de lado tínhamos a casinha onde eu fazia a comida. Éramos sete irmãos, cinco rapazes e duas raparigas, e era o meu pai e a minha mãe. Mas eu fazia muita comida para fora. Como é que a gente fazia a comida? Não havia o fogão! Havia, às vezes, uma máquina onde está petróleo, que ainda há hoje. Mas antes era no chão com lenha, uma panelazinha de ferro ao lado e o tacho em cima das trempes. Há umas trempes de ferro com três pernas. A gente botava a fogueira a arder, púnhamos as trempes em cima, púnhamos o tacho em cima das trempes e a panela da sopa a ferver de lado. Mais tarde, quando as coisas começaram a vir, é que já se comprou um fogão de ferro. Não é como agora. Agora, uma pessoa tem tudo, assim haja dinheiro. Mas as casas eram boas. Agora é que já são reles. Já fazem outras melhores.