De volta a Pai das Donas

Depois que vim de Lisboa comecei a fazer colheres de pau. Aquilo ainda dá trabalho. Ainda estive aí uns anos, já no fim de vir. Uma colher de pau tem que se ir ao pinhal, buscar madeira, tem que se talhar de faca, machada e enxó. É preciso quatro ferramentas. Ainda trabalhei muito com isso. Uma colher de pau alguns podem fazer mais depressa, porque foram criados nisso, agora para mim ainda dava aí uma meia hora. Aprendi comigo, às vezes, ia por aquele lado e por aquele e via este fazer e via aquele fazer e depois tentei começar. Quem tem ideia disto ou daquilo aprende sempre. Para as vender havia cá armazenistas, na zona. Pessoas que compravam a este, àquele e aquele outro. E depois é que as vendiam para os fregueses. Aquilo de vez em quando aumentava uns tostõezitos em cada colher. Era pouco. Era só um amparo.

De todos os trabalhos que tive o que mais gostei foi de cavar terra, tanta terra que eu cavei. Rachar lenha pelos pinhais com um machado. Isto era uma vida desgraçada. Era no campo a cavar a terra e tratar dos animais. A minha vida bem contada do princípio até agora havia muita folha para encher.