O dia-a-dia de uma antiga costureira

Agora já não posso fazer nada. Eu já andava muito coxa, cheia de dores. O ano passado, em Janeiro, operaram-me ao fémur, à perna direita. Agora, já não posso fazer nada. Vou fazendo a minha vidita cá de casa e já não é pouco. Na costura, as minhas coisinhas, ainda faço. E quando compro, às vezes, qualquer coisa feita que não venha à minha vontade, ainda arranjo. Se alguma coisa precisa de arranjo, é que eu arranjo. Ou subo a bainha, ou subo as mangas… Já tenho desmanchado, às vezes, certas camisolas e casacos. Desloca-se o ombro para um lado e eu não posso andar com aquilo. Arranjo-as. Mas assim costurar para fora, não. Não, porque eu já nem as minhas posso arranjar. Estão a tremer as mãos. Às vezes, tenho de chamar a minha filha para me enfiar a agulha da máquina. Eu vejo o buraco, mas a mão está a tremer e não enfio logo a linha.