“Quem é que lá podia estar a aturá-los?”

Depois, é que me mudaram daqui para Côja. Tinha 62 anos quando me mandaram e ali era já no ciclo, com aqueles matulões grandes. Até parecia mal de lá andar. E eram muitos! Então não eram muito mais complicados? Depois, meteram-me na fila para a hora do almoço. Quem é que lá podia estar a aturá-los? Eles tiravam o lugar a uns, a outros. Aquilo era lá o fim do mundo! Disse:

- Não! Isto assim também vai a ser demais. Espera lá!

Ai, deram-me lá muita vida! Muita vida, porque elas, as que lá estavam, eram umas fidalgas. Coitadinho de quem vai, porque faz de contas que eu fui assentar praça. Deram-me lá um trabalho que eu, enquanto lá estive, fazia das tripas coração. Mas elas não me levaram a melhor. Eu, também, depois, lhes disse:

- Eu vim assentar praça, que é como os soldados. E então aquilo que vocês não quiseram fazer é que me deram para mim.

Mas enganaram-se que eu também só lá estive dois meses. Meti baixa. Depois de dois meses, requereram-me à junta médica. Quando fui à junta médica, estavam três médicos e o do meio disse-me assim:

- “Que idade tem a senhora?”

Isto foi o dia 15 de Abril.

- Olhe, faço agora o dia 31 de Maio 62 anos.

- “Ai, minha senhora, pode-se ir embora, pois já está reformada.”

Pronto. Não pediram nada, que eu também lá não levava nada. Vim com a pré-reforma, mas já há dez anos que estou a tomar conta da minha vida e a fazer as minhas coisas. Já ganhei para isso.