“A escola para limpar e o leitinho para arranjar”

Entrei para a escola em 1974. Era auxiliar de acção educativa na escola da Benfeita. Já tinha o exame da quarta classe talvez há três, quatro, cinco anos. Estive ali 21 anos. Meti os papéis talvez em 1973. Em 1974, recebi uma carta de Lisboa a dizer que, como foi o 25 de Abril, no prazo daquele ano não metiam ninguém, que aguardasse. Depois, em 1976, escreveram. Mandaram-me as coisas para eu ir para auxiliar. Então, meti aqui os papéis, fui para Coimbra e lá tratei de tudo. Tive que lá ir ao dispensário. Também tive que ser vacinada e trazia tudo em dia. Quando foi o dia 18 de Dezembro de 1976, fui a Arganil, lá à delegação escolar, tomar posse.

Na escola, tinha que tomar conta dos miúdos quando eles andavam no intervalo. E tinha a escola para limpar e o leitinho para lhes arranjar. Vinha ao padeiro buscar o pão para depois arranjar o pãozinho para eles comerem. Tinham fiambre, Tulicreme, mortadela, tinham assim estas coisitas para lhes eu arranjar. E eles comiam e bebiam. Depois estive na cantina. Estive lá também a fazer-lhes a sopinha e o comer alguns três anos.

Ainda lá levei porrada dum! Dum miúdo do Enxudro, é verdade. Ele era muito mau e depois batia em todos. Eu um dia meti-me ao meio. Disse:

- Não! Isto agora tem que acabar. Também não pode ser assim.

Depois, levei eu. Não disse nada ao senhor professor, mas os outros vieram-lhe dizer e ele castigou-o. Ainda lhe deu uma bofetada bem dada, que lhe ficaram os dedos marcados na cara. Nunca mais teve vontade de me bater. Mas os miúdos agora são piores. Naquela altura, havia assim um bocadinho de disciplina e eles tinham respeito aos professores. Agora é pior.

Depois acabou. Tive muita pena, muita pena de deixar a escola. Gostava muito dos miúdos. Ai, tive uma pena deles!