“Padecíamos até à última”

Antigamente, não havia médico, não havia nada. Quando precisávamos, íamos a Côja ao doutor Adolfo e ao doutor Baptista. Mas, na Benfeita, havia o tio Zé Augusto e o tio Zé Maria. O tio Zé Maria tinha a barbearia. Acho que esteve na tropa, que foi enfermeiro. Esse, se uma pessoa partisse um pé ou uma perna, é que tratava. Nunca ninguém que ele arranjasse ficou aleijado. E o tio Zé Augusto era para os curativos, que era mais limpo que o outro. Quer dizer, a fazer um curativo era asseado e o Zé Maria, não. Curativo que ele fizesse tinha desinfectantes.

Uma vez, eu ia a subir por uma latada a cima, por uma parreira, e caí em baixo. O tio Zé Augusto estava-me a pôr daqueles agrafos que seguram. Iam quentes de ele os estar a aquecer num fogareirozito, num candeeiro, e aquilo apertava. Espera lá! Dei-lhe um encontrão que lhe arrebentei com tudo! Ainda tenho aqui a cicatriz.

Ele tinha sempre uns comprimidos, uma coisita assim qualquer. Mas fazíamos também os nossos chás. Ainda fiz, às vezes, um chá de nardo. É umas cabecinhas de nardo que cheiram muito bem. Era para as gripes. Havia o chá da marcela. Eu tomei bastante para me abrir o apetite de comer. Fazíamos chá com flor de sabugueiro, com tentinela, erva-terrestre... Fazíamos aqueles chás com aquelas as ervas todas. A gente misturava tudo.

Nessa altura, nascíamos em casa. E as minhas filhas, também as tive em casa. Tínhamos cá uma curiosa. Nem era enfermeira, era uma parteira qualquer, vá, mas que auxiliava bastante. Era Gracinda. Padecíamos até à última, até chegar a hora de cá vir para fora. Oh, Mãe do Céu! Eu tive bastante tempo, mas não tive complicação nenhuma.