“A minha terra de nascença”

A Benfeita foi a minha terra de nascença. É da terra que eu gosto também. Eu vou um dia a Arganil e estou farta de lá estar. E é só meio dia! Não ando lá o dia inteiro. Eu era solteira e estava em Aveiro ou Coimbra ao pé dos meus pais. Tinha que estar mesmo. Mas gosto é daqui. Podia ter ficado em Aveiro e podia estar melhor do que estou. Mas, pronto, não calhou... Eu sei lá se a aldeia é bem feita, se ela é mal feita. Quando nasci, já cá estava. E sei que as pessoas da Benfeita são “Balseiros”. É como os “Bezerros” de Côja e os “Pintassilgos” de Arganil do livro do doutor Mário.

Antigamente, para ter água em casa, íamos com o cântaro à fonte buscá-la. Havia uma fonte na praça, havia outra adiante, na capela, e havia uma fonte no fundo que era a da Ribeira. Outras vezes, havia lá em cima uma mina que chamávamos a Mina da Sardinheira. Só lá íamos à noite, porque a dona precisava da água para regar e se desse por ela... Só à noite é que lá íamos com o cântaro, que ela era muito má. Quando ela estava já para casa, é que a gente lá ia buscar um cantarito. Enchíamo-lo dentro da mina e bebíamos. Outras vezes, íamos para a Ribeira de Cima também.

Não tínhamos luz em casa, mas tínhamos os candeeiros. Era o candeeiro de petróleo. Tenho um muito arranjadinho em cima do móvel da sala e tenho ali o gasómetro de carbureto. Aquilo tem o depósito por baixo que lhe punha o carbureto e o de cima estava cheio de água. Depois, conforme a água ia pingando para baixo, tinha aquele bico e a gente acendia. Dava uma luz que era uma beleza! Passei noites inteiras a regar com ele lá para cima, na fazenda, ao Espinho. Isto era tudo cultivado. Depois, a gente precisava da água. Um ia cedo, tirava por cima. Outro ia cedo, tirava. E depois a gente cá por baixo, se não andasse toda a noite, não regava. Passei lá muitas noites.