O trabalho em Lisboa

Depois daí é que fui para Lisboa, fui para as camionetas. Era ajudante. Era um bocado pesado também. Naquele tempo tinha que se andar. O trabalho de ajudante é estar a par das cargas, da carrada. Está ali o chofer a conduzir e lá ajuda qualquer coisita, o resto é do ajudante da camioneta. Tinha que carregar e descarregar e levar aos fregueses.

Quando era ajudante de camionetas o ordenado era conforme. Quando havia mais gorjetas e tal, dava mais alguma coisita mas isso nunca se podia contar. Uns davam gorjetas, outros não davam. Naquele tempo era à volta de 60, 70 escudos por dia mais ou menos.

Também lá andei em distribuições. Distribuições também é ruim. Distribuía várias coisas, numa empresa que as pessoas iam lá levar as encomendas e depois íamos lá para o lado de Cascais levar. A camioneta dava a volta e a gente ia pelos sítios onde estavam os fregueses, e a gente é que tinha que levar aqui e acolá as encomendas, como agora despacham, por exemplo, naquele tempo era assim.

Ainda estive um tempito em Lisboa, uns 7-8 anos mais ou menos. A trabalhar estive onde chamam a Graça, que é ao pé de Sapadores. E vivia na Costa do Castelo. Trouxe boas recordações. Tinha que trazer. Umas boas, outra más.

Naquele tempo ganhava eram 300 escudos por semana. Hoje é 1 euro e meio. Eu depois pedi aumento aos meus patrões, que não chegava, era pouco e depois começou-me a dar mais 50 escudos além desses 300, com medo que eu fugisse para outro lado. Nessa altura fazia colchões simples e colchões mistos. Naquele tempo era assim: de um lado palha e do outro lado sumaúma. O colchão era feito e depois no centro daquele colchão levava então para dividir, uma prateleirazinha, e enchia-se de um lado de sumaúma e do outro palha. Quanto mais a gente batia na sumaúma mais ela subia. Ficava muito fofinha, uma coisa muito boa. Depois era basteado. Nem qualquer um faz aquilo, e depois aquilo ficava muito bonito, confortável e saudável.

Às vezes, lá cozia à máquina, outras vezes eram os patrões que faziam aquilo. Depois:

- “Ó senhor António está aqui este é para isto, é para aquilo...”

Eram pessoas que queriam de um lado uma coisa e do outro lado outra. A sumaúma era mais para o Inverno, aquecia. E também havia de lã, também se podia fazer de lã se os fregueses quisessem. A lã era escarpeada numa máquina própria que a gente tinha. Um quilo armava muito e depois ou lã ou sumaúma ia para um lado e a palha ia para o outro. A palha era para o Verão, que era saudável, era melhor que a lã. A lã já era mais doentia um pouco.

O preço do colchão era conforme eles eram. Esses mistos de sumaúma de um lado e palha, esses eram mais caros. Naquele tempo havia os de 500, até de 1000 escudos. Já era dinheiro. Não era qualquer um que comprava aquilo. Eram vários preços. Era à volta de um ordenado mensal meu.