“Era a mocidade melhor do que agora”

No meu tempo, era a mocidade melhor do que agora, que não sabem fazer nada. Jogávamos à macaca, ao feijão, à corda e tínhamos jogos de roda. Ao feijão, fazíamos uma cova na terra e depois atirávamos assim o feijão duns e doutros. Jogávamos aos três e aos quatro para caírem dentro da cova. Quanto mais lá houvesse, mais a gente ganhava. E, às vezes, chupávamos os feijões dos outros todos e eles ficavam sem nada. Também cantávamos aos jogos da roda aquilo que a gente sabia. Era assim:

- “Ó senhor lá de baixo, empreste-me a sua corda!”

Dizia ele assim:

- “Estão queimadas!”

E dizia a gente de cima:

- “Quem é que as queimou?”

Fazia o outro:

- “Foi uma velha que aqui passou!”

Então, vamos a ver quem é que puxa mais. Aquele que mais puxasse é que ganhava. Se os outros viessem todos, pronto, éramos nós que ganhávamos!

Quando jogávamos ao senhor barqueiro, estavam um dali e outro daqui. E era para passar por baixo. Depois, andávamos uns atrás dos outros e dizíamos assim:

“Ó senhor barqueiro
deixai-me passar!
Tenho filhos pequeninos,
Não os posso sustentar.”

E eles os dois, que estavam com as mãos dadas, diziam assim:

- “Passará, passará, mas algum cá deixarás! Se não for a mãe diante. É o filho lá de trás!”

E sacavam o último que fosse. Depois, a gente dizia ao que ficasse lá preso:

- “Queres banana ou ananás?”

Um, era banana, o outro, era ananás. Dizia o que queria e ia para trás dum ou para trás do outro, conforme o que lhes dissesse.

Não tinha brinquedos, mas fazia as bonecas de farrapos com umas pernas de moitas. Com uns farrapos fazia-se-lhe a cabeça e tinha uma moita enfiada dum lado e doutro. A cara, a gente fazia-lhas com um lápis. Então, não havia outra coisa.

Mas nessa altura já ajudava a minha mãe. Que remédio tinha eu. Então, nasceram as minhas irmãs quando eu tinha 9 e 10 anos. Eu criei-as talvez até aos 12. Aos 12 anos comecei a andar no dia fora.