No tempo dos despiques

Antigamente, havia sempre bailes. Eram bons. Havia aí o tio António Sapateiro, o tio Raul e o tio Mil-Homens. Um tocava banjo, outro tocava guitarra e outro tocava a viola. Mas, quando vinha o homenzito dos Pardieiros, trazia uma concertinazita. Despovoava-se tudo para aí! O toque era diferente. Era o tio Elísio dos Pardieiros. Já morreu.

E houve cá muitos despiques, também. Era o baile do oiteiro e era o baile do fundo. Depois andavam despicados uns com os outros para ver aquele que mais gente tivesse e melhor fizesse... Uma vez, quando foi o despique do oiteiro, deu oito horas da manhã, andávamos nós lá em cima, na escola, a cantar «Já Rompe a Aurora sobre a Madrugada». Às oito da manhã! E depois, de Sábado de Gordo para Domingo de Gordo, íamos por aí. Havia muitos animais. Iam ordenhar as cabras e fazia-se muito café com leite. Uma fazia um bolo, outra fazia outro. Havia sempre muito que comer e muito café com leite! Depois, Quarta-Feira de Cinzas, para encerrar o Carnaval, cozíamos os grelos com o bacalhau. Era só nos anos dos despiques, porque nos outros anos, não. Depois, andávamos despicados a ver qual era o que fazia melhor. E havia outra quinta-feira que cantavam aquelas modas de roda. Aquilo eram Carnavais bonitos. Agora, não presta para nada.