Um paiolzito para seis

A minha casa era quase um paiolzito. Era pequena. Vivíamos lá seis pessoas. Os meus pais e quatro irmãos. Era pequena mas tínhamos de nos arrumar de qualquer maneira e feitio. Tinha uma salazita e três quartitos. Nem casas de banho havia na altura, nem nada. Eu dormia com o meu irmão. Éramos dois irmãos, dormíamos os dois. E as minhas irmãs dormiam as duas. E os meus pais os dois. Era um quarto para cada casal. Tinha uma cozinhazita pequena com uns bancos em volta. Era uma cozinha assim em volta, tinha as paredes, eram quadradas. Tinha um, chamávamos nós um bordo, era uns assentos de um lado e do outro. E algum banquito que havia, e o resto da madeira. Tinha a lareira, a lenha. Fazia-se a comida numas panelas de barro ou de ferro. Fazia-se a sopa numa panela de ferro, e às vezes, outras de barro para cozer o feijão, qualquer coisa assim. Uma frigideira para fazer umas batatas. Acendia-se a lareira, havia um caldeirão, chamávamos nós, um caldeirão de ferro com umas trempes, punha-se ali a frigideira e ali frigia-se as sardinhas e as batatas, era assim aquilo. A sardinha era frita ou assada, até na brasa. Era tudo à pobre. Tudo à pobrezinho. Era o que se podia arranjar. E, às vezes, até se comia mais alguma coisa e não havia. As batatas com uns grelitos, umas batatas cozidas ou com feijão. Era o que se podia arranjar. Uma sopita de couves na panela de ferro. Nós porco não criávamos. Comíamos, às vezes, um bocadinho de carne ou assim mas tínhamos de comprar por fora. Ia-se ao talho e comprava-se. Nós não criávamos porco. Tinha uma lojazita, abria-se um alçapão da rua para baixo, lá íamos para o fundo, para a loja, parecia que íamos para um cabouco. Era para a arrumação. Tinha o milho que colhíamos da fazenda, não nossa, cultivávamos por fora. Nós éramos empregados, tínhamos patrões e nós é que pagávamos o milho aos patrões e feijão. Batatas é que não dávamos, batatas era com eles. O que a gente cultivava era para nós mas de pensão tínhamos que dar aos patrões o que eles exigiam. Depois daí o que sobrava é que era para os pobrezinhos. Éramos nós. Trabalhávamos todo o ano e o pouco que ficava era para nós. Mas as pensões deles tinham-se que lhe dar.