Vida pobre mas bons pais

O meu pai chamava-se António Francisco Rosa e a minha mãe Maria da Assunção Marques. O meu pai trabalhava no campo, a cavar a terra e a rachar lenha com um machado, ali de manhã à noite. E minar penedas se fosse preciso fazer alguma obra. Era a vida. Foi a dele e a minha, que ele não me ensinou outra arte. Às vezes, para ganhar alguma coisita, ganhava-se de manhã para se comer à noite. Era uma vida pobre.

A minha mãe ia para a fazenda, coitadita, também. Ela não andava o dia fora, mas tinha de aturar os filhos. Éramos gandulos. Éramos quatro. Para nos dizer, quando a gente andava na fazenda, o que se havia de fazer. Regar o milho ou escanar, esbandeirar chamámos nós, fazer um servicito, acartar um molho de mato da serra para fora, para o pé do curral, da casa do gado.

Eram bons pais. Eu tive bons pais, tive sim. Só tive pena foi que o meu pai coxeou muito novo, foi como eu também. Éramos quatro irmãos e saiu tudo à lé do pai. O meu pai também era coxo e nós saíramos todos igual. As minhas irmãs andam de muletas e eu ando com outras. O outro meu irmão já morreu mas também andava com umas muletas. Foi tudo. Foi mal pegadiço.