Benfeita: terra de tradições

Faziam matanças do porco, ainda hoje fazem, mas são poucos. Hoje já há menos porcos. Até eu matei muitos. E também criei alguns.

Esse dia era uma festa, convidava-se a família e quem lá ia ajudar. Comia-se. Os meus avôs convidavam as pessoas. As pessoas que ajudavam, comiam o almoço. Naquele tempo, jantar era ao meio-dia, uma hora. Agora é o almoço. E depois à noite agora é o jantar, naquele tempo era a ceia. No final de comer o porco, à noite, já pouco mais lá havia. Era muita gente. E depois ao outro dia, o indivíduo que matava ia desmanchar o porco e também levava mais um corte. No dia de salgar os presuntos e a carne, já pouco ficava em casa. Era assim naquele tempo.

Havia trabalho para todos. Toda a gente trabalhava, toda a gente ajudava. As mulheres cortavam a carne para as chouriças, no fim de desmanchar. Começavam a tirar aquilo que entendiam que era para as chouriças, para aquela gamela vai isto, para aquela gamela vai aquilo e era assim que faziam.

As vindimas eram fracas, mesmo assim, ainda haviam aí umas vindimazitas e havia quem ajudasse. Às vezes, troco por troco, iam-me ajudar a mim, depois eu ia ajudar a eles e era assim.

Tenho feito sempre vinho. Para fazer vinho é cortar as uvas e levá-las para a adega, para a loja. Agora é esmagado com máquinas que há próprias, naquele tempo era a pé. Lá para o Douro ainda há isso. Depois ia para os balseiros ferver, no fim de 4-5 dias é metê-las para os pipos. E a massa ia para o alambique fazer aguardente.

Eu sei fazer aguardente. A massa é levá-la para o alambique, faz-se a fogueira e ela começa a correr por um canozinho. Agora há essa coisa de regular como é que a querem: mais forte ou mais fraca. Nós não. A primeira que cair, três, quatro, cinco litros era forte, depois começava a afracar, afracar, afracar, até que se tinha que arrancar a cabeça ao alambique. Depois a descarregar, apanhar escaldadelas, descarregar aquilo tudo e meter lá outra massa. A massa sai quente, está a ferver.

Há pessoas que fazem uma alambicada por dia, outras faziam duas e três, era conforme calhava.

Eu ajudei a queimar muitos gatos, no dia de Carnaval. Púnhamos um pinheiro e esse pinheiro era cheio de palha por aí acima e de coisas. Púnhamos-lhe na ponta um cântaro e púnhamos lá um gato que fosse bravo. Depois esse cântaro era seguro com um bocadinho de palha, num galho. Depois o lume ia pela palha acima e chegava lá acima e queimava a palha e o cântaro caía cá em baixo. O gato, às vezes, ia cheio de lume. Fugia a sete pés! Tradições que agora já não há. Já não há nada disso! Alguns iam aflitos mas era sempre o que era mais bravo que ia para isso.

O dia da cobra falavam que era no primeiro de Maio, que era o dia das cobras mas não me lembro de mais nada.

As badaladas da torre da Paz acho que foi quando acabou a guerra. Naquele tempo eram 1700 badaladas que a torre dava naquele tempo, no dia 7 de Maio, quando fazia anos que acabou a guerra. Ainda hoje dá isso. Ainda hoje toca. Chega-se àquele dia e começa dar as badaladas. É capaz de estar uma tarde quase inteira a tocar. Tradições...