“O Santo até tem um buraco nas costas”

A capela foi feita com nove moradores. Dizia a minha avó, que morreu em 1956 e tinha 109 anos, que o Santo era muito milagroso. Não sei se era, se não! Depois vinham pessoas aí. A capela era de laje por cima ou lousa, como lhe queiram chamar. Acontece que os romeiros que cá vinham cumprir as promessas roubavam as telhas e foram-nas trazendo. Mas houve uma vez que levaram o Santo e descascaram-lhe as costas para levar as areias porque ele é de pedra de anção. Nem toda a gente sabe o que é. É uma pedra especial. Diziam que curava as sezões. Era a fé! As sezões eram uma febre que dava às pessoas. É quase o género do paludismo ou que é! A pessoa tão depressa estava cheia de frio como, de repente, começava a transpirar. Também acreditavam que quando o forno é feito de novo, se as pessoas comerem o pão da primeira fornada também não lhes dá sezões. Mas o Santo até tem um buraco nas costas. Tanto é que no andor, puseram uma folheira para o segurar! Com papel forrado, ninguém diz que ele vai seguro, mas tem! Hoje é raro virem cumprir promessas, mas antigamente era “”ralo“” o dia em que aí não apareciam pessoas. A romaria era sempre só uma! Depois, coitados, andavam todo o ano para ver se arranjavam alguma coisa.