Matança do Porco - “Eram bons os dias da matança”

Eram bons os dias da matança do porco. Os de cá vinham ajudar a matar o porco. Havia homens que sangravam o porco. Hoje já cá não há. Na altura, matavam o porco, apartavam a carne de sangue e a carne branca e ia para gamelas. E depois era botado o sal, alho e coloraus nas gamelas e ficava assim de um dia para o outro. No dia seguinte, iam então encher o enchido. O enchido que era de carne era apartado numa gamela e o que era de sangue era apartado noutra. A gente diz que eram as chouricitas que eram apartadas. Ao fim, era comer e gritar por mais. Era bom. Já tenho comprado aqui, mas não se compara nada com o que cá faziam. Ainda matei algumas vezes também e fazia-o. Mas quando a gente podia fazer, aquilo era uma farturinha e tão gostoso. Agora até cá o trazem e já tenho comprado, mas não tem o paladar de antes. Os enchidos eram feitos com umas enchedeiras que tinham um biquito e punham dentro do enchido. A gente até comprava, às vezes, às meadas, por modo de ir fazer mais e, ao fim, aquilo era posto em cima do lume. Eu tinha uma cozinha que em três dias punha os enchidos amarelinhos, parecia que eram de ouro. Tinha os fermentos e tudo lá dentro. Ainda não era nesta cozinha que eu arranjava os enchidos. Era numa cozinha que agora mandei arranjar, mas que estava para ir abaixo. Então disse: - Eu tenho que fugir, que não sou capaz de o segurar. Isto quando vai a baixo não avisa. A gente pode estar debaixo e o telhado vir abaixo. Se o meu ganhador não me falhasse, ficava de outra maneira, mas agora não tenho posses. Tenho que remediar só, mas era ali que ia secar o enchido. A gente ainda gastava, mas ficava ali uma farturinha. Eu ainda tenho pena de não poder fazer. O meu marido ajudava-me que ele também para o comer, também comia. Tive tempo em que a minha loja tinha lá mais comer, do que nas lojas que estavam a vender.