A amanhar a terra

Enquanto o meu marido estava em Lisboa, eu fiquei em Soito da Ruiva com os filhos. Tinha aí um bocadito de terra que ia amanhar para dar alguma coisinha de comer aos filhos. Era assim que passava os meus dias. E eu, naquele tempo, via-me tão satisfeita. Gostei tanto daquela época. Bem, ele mandava-me algum dinheiro para eu comer com os filhos. E eu ao amanhar o bocadito até cantava, mesmo sozinha. Cantava lá, pelo meio do milho, havia gente que até iam escutar para me ouvir a cantar. Diziam que eu ainda sabia as cantigas antigas. Há uma cantiga que cantava muito. Era assim: “Ó lugar de Soito da Ruiva, Quem te pôs o nome errou, É o jardim das flores, Já há muito que lá não vou.” Eu cantava estas cantigas lá. Tinha um pocito, enquanto ele tomava água, eu ia empalhar, para botar a água por cima da terra. Em ele vazando, tornava-o a tapar. E aí passava o meu tempo, enquanto o meu marido não estava cá.