Episódio - “A roda dos cavalinhos”

Para me casar, ainda foi preciso o meu pai me dar a idade e o rublo. Para isso, foi preciso ir a Arganil. E ele foi lá com a minha mãe e já tínhamos quase tudo pronto. Era em Pomares que se mandava vir as papeladas da freguesia e faltava ainda para vir. A ele também faltava-lhe ainda quatro meses. Ele não tinha pai, nem mãe, nem avô, nem avó, então teve que levar o Conselho de Família a Arganil. E eu disse para o senhor que estava a na Junta de Pomares: - Ora, não vale a pena lá dar muito trabalho. Para pagar o rublo vai o meu pai e a minha mãe. Mas ele não tem pai, nem mãe, nem avô, nem avó, tem que levar Conselho de Família. E então, já só faltam quatro meses e é melhor esperar. Como agradecimento, até fôramos comprar-lhe uma roupazita ao rapaz que havia numa venda, para se governar também. Recordo-me que ele disse: - “Não, não façam isso. Durante esses quatro meses ainda pode haver um desvio de vós esgalhares e cada um ir para seu canto. E então é melhor, tendes tudo pronto e ides a Arganil. Ao fim, o meu marido disse: - ”Então, gastem-se os anéis e fiquem os dedos. Levamo-lo lá.“ Ele não queria esperar e disse: - ”Não, nós não vamos esperar. Hei-de ver se arranjo os homens para lá irem comigo.“ Arranjou cinco homens. Fôramos daqui a pé, naquele tempo, para Arganil. Quando lá chegámos, andava lá um carrossel e ele disse-me assim: - ”Queres ir andar no carrossel? Vamos lá também.“ E eu disse assim: - Vamos então, isto é para estourar. Quando viu a roda dos cavalinhos, quis logo andar. A gente estava num tempo em que a cabeça não se importa. Naquela altura era tudo para diante. E ainda estive uns segundos para me agarrar à roda dos cavalinhos. Nuns lados aquilo descia e noutros lados parece que se sobia. Nunca tinha andado naquilo. Fui e gostei. Já nessa ocasião e agarrei-me já a ele. Então, já tínhamos tudo pronto. Eu disse assim: - Ai, se tu caíres também caio. Agarrei-me a ele, mas a minha mãe não gostou. Não queria que a gente gastasse o dinheiro. Ela não gostou. Eu vi. Mas teve que ser. Depois a gente queria comer e não havia dinheiro. E a gente tem o costume de dizer: - ”Namorei mulher bonita, não me importa da fazenda, hoje quero comer e a bonita não me lembra.“ Naquele tempo era uma pura verdade. A gente quando está assim coisa que não é preciso nada. O que quer é arranjar um rapaz e o rapaz arranjar uma rapariga. Mas a gente ao fim precisa de comer.