“Uma rapariga, por gostar, não pode dar nas vistas”

Conheci o meu marido aqui em Soito da Ruiva, éramos vizinhos. A gente, às vezes, até andava com as coisas em segredo. Ninguém sabia. A família dele tinha umas fazenditas pegadas com as minhas. E eu ia com os rapazes até aí para os matos. Sabia que ele gostava de mim e eu também não desgostava dele. Mas a gente, quer-se dizer? Uma rapariga, por gostar, não pode dar nas vistas, porque ele é que tem de chegar-se a ela. Não é a rapariga a chegar-se a ele. Hoje já usam chegar assim, até por cartas. Mas nós não. Andámos dois anos, se calhar, que ninguém cá sabia. E ele foi ter com o meu pai e disse-lhe então: - “Posso escrever à sua filha. Posso ficar a escrever-lhe? O meu pai disse logo: - ”Não senhor, tu não escreves para ela. Se quiseres escrever é para mim. E se não quiseres, para ela não te autorizo a escrever.“ E assim foi. Ele teve que escrever durante um ano para o meu pai. Para mim não, não foi autorizado. Ele tinha vontade de escrever para mim, mas o meu pai não deu autorização. Ele devia ter tido medo do meu pai. Mas mesmo assim escreveu e assim aproveitou.