Natal - “O Natal era fartura”

O Natal aqui era como agora. Recordo-me que no Natal ninguém se deitava antes da meia-noite para comer os torresmos. Depois de matar, com licença, os porcos, guardavam uma parte para aquele dia para fazer os torresmos. Mas esperavam que desse a meia-noite para os comer. Agora é logo de manhã, quanto mais à noite. O Natal era fartura. As pessoas guardavam tudo para o Natal. Às vezes, juntavam as famílias, quem tinha. Nesse tempo, vinham cá dizer a missa. Agora o nosso padre vem cá dizer a missa sempre no dia dos Reis, no dia 6 de Janeiro. Fazemos o presépio na capela. Alguns também fazem em casa. Eu e o meu neto fazíamos. Mas agora não, depois que o pai morreu. Não lhe apetece nada. Na altura, não havia muito dinheiro e não se fazia muitos doces, apenas o arroz doce. E às vezes nem todos o faziam. Nem todos tinham posses para comprar o açúcar e o leite para botar no arroz. Também havia quem fizesse tigeladas e coscoréis. Mas isso fera já mais tarde, que em primeiro não havia dinheiro para nada.