“Cheia de gente”

Antigamente, no Soito da Ruiva todas as pessoas tinham terrenos e uma casinha para viver. As casas somenos, mas bem viviam lá. Morava cá muita gente. Estas casas estavam todas povoadas. Não havia casa nenhuma que não tivesse gente. Agora estão todas sem ninguém. Uns morreram, outros foram para Lisboa. Não há cá ninguém, a bem dizer. Quando era pequena vivia numa casa cheia de gente. Tinha que se viver de qualquer maneira. Trabalhava-se muito na fazenda por modo de a gente se governar. Era bem preciso. Quando me casei fiquei em casa dos meus pais. Mas tinha uma casita, aqui perto da minha, que o meu pai me emprestou. Depois, o meu marido comprou-a e mandaram arranjá-la, porque era uma palheira. Esta casa onde moro agora, já a construí mais tarde. Comprámos o terreno e mandámo-la fazer. Na nossa aldeia, as casas são de pedra. Para fazê-las tivemos que carregar a pedra às costas e à cabeça. As raparigas é que as carregavam. As mulheres de cá eram mulheres de força. Ajudaram a construir muitas casas carregando as pedras às costas e à cabeça. Nós ganhávamos dinheiro, mas era uma coisa de nada. Eram 25 tostões. Na altura, cinco escudos era já um bom dinheiro. Mas bem, naquele tempo, fazia jeito. Era muito. O dinheiro que ganhava dava aos meus pais. Eles tinham de nos governar, dar de vestir e calçar e onde é que eles tinham o dinheiro? Tinha que ser assim.