“Havia muita rapaziada”

Arminda relata que naquele tempo havia muita rapaziada. Brincávamos, dançávamos e sei lá o que fazíamos mais! Estas maltas costumavam juntar-se ali no largo e por aí fora. Aos domingos brincávamos ao cântaro, que era como jogar à bola, mas quando o cântaro caía para o chão e partia era uma risota. Botavam-se todos a rir. Na altura, tinha idades para se jogar ao cântaro. Normalmente, só as raparigas grandes é que jogavam. Era conforme. Às vezes, umas jogavam, outras não. Os rapazes também jogavam. Os domingos ficávamos a guardá-los. Não se trabalhava. Era o dia de descanso. Naquele tempo ainda iam à missa ao Sobral Magro, a Pomares. Agora já não vão. Era muito longe e as pessoas iam a pé. Quem podia caminhar ia, quem não podia ia mais devagar. A bem dizer, só lá iam as velhas. Quando era pequena também ia quando podia. Ia descalça e já estava tão acostumada que os pés não doíam muito. Naquele tempo nem tamancos havia. Era uma miséria. A vida era ruim. Fome nunca passei. A minha mãe era pobre mas tinha sempre pãozinho para a gente comer. Quando nevava, ficávamos de roda da fogueira, porque fazia muito frio. Às vezes, havia muita neve. Então, tínhamos que estar fechadas em casa e o gado ficava na loja. Já no tempo de Cidalina, sua filha, o Inverno era vivido de forma diferente. Diz: “lembro-me bem do Inverno. Ai credo, era cada nevão! E quando a gente andava a cavar? Uma vez, andava a cavar para uma prima minha além e caiu-nos lá um nevão tão grande que tivemos que fugir. Mas lembro-me de brincar na neve. Fazíamos bolas muito grandes que era para ficarem ali a derreter durante muito tempo. Brincávamos às escondidas também! E depois também tinha o jogo da panela! Mas esse jogo só se fazia na Quaresma. Em passando a Quaresma, já eram outras brincadeiras. Para os jovens, havia os bailaricos. E passávamos a vida a dançar no largo ao pé da escola. Os rapazes dançavam bem e as raparigas também. Era tipo folclore. Mais tarde, veio para cá um homem, o marido da tia Anunciação que tinha uma guitarra e a gente dançava ao toque da guitarra. Ainda era melhor. Primeiro tinham harmónicos, outros tinham concertinas e outras coisas como violas e bandolins. Fazíamos sempre uma grande festa aos domingos.