Mel - “De roda das abelhas”

Nós tínhamos cortiços, mas aquilo é preciso andar muito de roda das abelhas. Para as colmeias funcionarem é preciso ter uma abelha-mestra. Se não tiver aquela abelha, as outras não fazem o mel, morre tudo com a fome. A abelha-mestra é diferente das outras. É um bocadinho mais comprida e é mais amarela. Quase como uns bichitos que diziam que eram as vacas-loiras. São os bichitos que às vezes andam pelo mato e pela erva, compriditos e têm uma parte que é quase da cor das flores amarelas. Os cortiços também estão diferentes. Agora há caixas de madeira, mas antigamente, eram uns cortiços em cortiça. Eram quatro partes: uma atrás, outra à frente e duas dos lados. E tinha uma por cima para tapar. Por baixo era destapado que era para as abelhas trabalharem lá por baixo. Nem sempre faziam cortiços, às vezes, compravam-nos. Eu ainda fui buscar alguns ao Sobral Gordo. Se fosse agora já lá não ia tanto, já não posso. A quantidade de mel que produziam dependia do tempo. Se o tempo fosse bom e elas fossem apanhá-lo às flores, estava certo. Mas se fosse de chuva ou que não pudessem ir lá buscar o mantimento, não podiam fazer e morriam com a fome. Para verem a quantidade de mel que o cortiço tinha, batiam no tampão do cortiço. Se estiver feito, já toca a feito, se bater ao vazio, já lhe não mexem porque não está bom para tirar. Para crestar o mel tinham uma ferramenta que se usava de propósito para aquilo. Tinham que cortar para virem os favos. Davam fumo às abelhas para irem para baixo. E cortavam o mel por cima. Mas ainda vinham muitas abelhas que, às vezes, ainda davam umas dentadas nas mãos. Só tiravam o mel quando era ali pelo São Pedro, de ano a ano. Mas agora com estes cortiços que são caixas, parece que o tiram duas vezes, depende do mel que tem. Quando tiram o mel dos cortiços não o podem tirar todo. Se lho tirarem todo, as abelhas morrem com a fome, porque elas comem o próprio mel. Para tirarem o mel tinham que bater no cortiço, para as abelhas irem de um cortiço para o outro. Às vezes são teimosas, se elas não virem a abelha-mestra não vão. É ela que dirige tudo. O mel comiam-no de muita maneira. Às vezes até com pão, com broa. Punham-no num prato e depois iam molhando a broa e iam comendo. Existem diferentes tipos de mel, dependendo da flor. O que é de mato preto é escuro e o que é de flores assim mais amarelas, mais claras, também é mais claro. Mas cá em Soito da Ruiva o mel é quase sempre do mato preto, porque aqui doutras coisas pouco havia. Noutros sítios há a esteva, que tem aquelas flores assim mais claras e esse mel já é diferente. Mas aqui era quase sempre tudo a mesma coisa.