“Não parece o mesmo”

Soito da Ruiva era uma zona muito bonita, tinha muitas árvores. Havia muitas árvores, que até eu, assim que me casei, tinha muito castanheiro, muita castanha para secar. Muita, muita! Depois veio o fogo. Há-de haver aí uns 20 anos e devorou tudo! Agora já tornávamos a ter muitas oliveiras e soitos de castanheiros que já davam castanhas. Depois veio outro incêndio e levou tudo outra vez. O meio do povo é ali onde se passa para ir para a casa dos meus sobrinhos. O cimo é onde acabam as casas. O fundo do povo é onde elas acabam também. Onde se passa por baixo da fonte era um largo onde jogavam à panela, aos cântaros. E até estava lá uma mimosa muito alta, mas não tinha relvas. A gente andava em volta na brincadeira. Ali é que chamam o meio do povo. Até passava o ribeiro, que hoje está tapado com cimento. Antes não estava tapado. Foi tapado há pouco tempo. Assim é melhor. Para as crianças, quando vêm, e para pessoas idosas é melhor estar como está. Ao longo do tempo a aldeia foi melhorando, porque a Comissão de Melhoramentos tem feito muitos melhoramentos. Antes as pessoas não tinham muitas condições. Era muito triste. Não havia carros, nem estradas para virem a pé. De Pomares para cima não havia estrada. Aqui por cima não havia estradas! Vinham por onde? Mesmo o senhor doutor de Avô vinha num cavalo, num macho. E o padre? Primeiro, o padre que era em Pomares, que é a nossa freguesia, também vinha num macho. Era muito longe, cansavam-se com o calor, chuva e frio e tudo. Era o transporte que havia. Vivia-se com muita dificuldades, a respeito de hoje. Hoje está mau, mas a respeito de transportes, já está muito bom, melhorou. E no tempo que me eu criei não havia nada. Nem água tínhamos em casa. Íamos buscar com um cântaro à fonte todos os dias! À beira da casa do meu sobrinho, ao pé de uma poça está a nascente. Ia-se lá com um cântaro e enchia-se. A Comissão de Melhoramentos fez muitos melhoramentos para a terra! Primeiro, estava tudo escangalhado e não havia nada! E agora vão melhorando, de pouco a pouco, porque a vida está má. Vão andando conforme têm o dinheiro. Mas quem conheceu Soito da Ruiva há trinta anos e o vê hoje não parece o mesmo. Agora há cá pouca gente. Aos fins-de-semana vem alguma. Vem mais gente quando é pela Páscoa. Às vezes, pelo Natal. Em Agosto é que vem muita gente à festa. Vêm também de outras aldeias, mas a pessoa que faz a festa e junta o dinheiro é cá da terra. Mesmo que não sejam de família, toda a gente canta e dança e toda a gente faz festa. E os da terra que não vivem cá, têm a sua casinha para viverem. E é uma alegria quando chegam.