“Sempre tratamos da nossa saúde”

Nós sempre tratamos da nossa saúde, porque não havia médico. Uma tia minha até morreu porque não teve a criança. Foram a Avô, que é para lá de Pomares, três vezes chamar o doutor Vasco. Veio cá e não foi capaz de tirar a criança. E essa minha tia morreu. O senhor doutor ainda cá veio três vezes, mas não foi capaz de o tirar. E morriam assim as pessoas, porque o médico era só aquele de Avô. Havia um senhor na Benfeita, o Sr. José Augusto, que vinha cá, mas não era médico, era barbeiro. Mas também era entendido, dava os remédios às pessoas. Hoje, se é preciso, a gente fala para os bombeiros. Tenho o aparelho que cá vieram pôr a mim e a outras pessoas que estão sozinhas, e a gente fala e vêm logo socorrer. Naquela altura, não. Quando havia entorses e dores de barriga, coisas assim, fazíamos chás. A gente apanha ervas para fazer chás. Aqui, por exemplo, faz-se um chá com pimpinela que é para as constipações. Por aqui há muita pimpinela. Eu apanho e seco. Mas há outros chás. O chá de alecrim também é bom. E de carqueja. Este bebe-se à noite, quando a gente se deita. Acalma os nervos. E o chá de tília, também cá há, só que esse “defraca” muito a cabeça se a gente beber muito. E há o chá das malvas, que é bom para infecções nos intestinos ou no peito. É um chá muito desinfectante, o das malvas. Também ando sempre a apanhar malvas e faço. Ainda hoje apanho e seco e quando é preciso faço chá. Às vezes, também amassavam umas coisas. Punham umas ervas amassadas em cima de uma ferida qualquer quando alguém caía. Ou também faziam massagens para a dor disfarçar mais. Havia também o estrutagado! É quando a pessoa cai, dá mau jeito e ficam os tendões fora do sítio. O pé tombava e ficava o cabulo de um lado. A minha sobrinha sabe rezar ao estrutagado, senão não passa. Hoje vão ao endireita e ao médico. Mas, quando me eu criei, se se estrutagava um pé, rezava-se e atava-se-lhe uma ligadura e aquilo ia ao sítio. A minha sobrinha é que sabe. Eu nunca fiz isso. Até se põe uma pinga de água a ferver no púcaro, depois põe-se num alguidar e o púcaro vira-se para o ar. A água está no alguidar, depois recolhe toda para o púcaro. E tem um trapo com uma agulha e conforme a pessoa vai rezando, vai cosendo. Como se fosse para coser a ferida, só que é no trapo. E a pessoa vai dizendo as palavras, o que está a rezar, e o outro responde. A minha sobrinha sabe como é que se reza ao estrutagado. Ela sabe muito bem, porque ela tinha uma tia que era muito boa pessoa e cosia os pés a qualquer pessoa ou um braço. A minha sobrinha, quando reza a uma pessoa começa logo a melhorar. Tem de rezar três dias a eito. O meu filho uma vez andava na escola de Sobral Gordo, mais o Arménio da minha sobrinha. Meteu um pé numa roldana que era para tirar água e ficou com o pezito de lado, chegou cá a coxear. A minha sobrinha rezou ao pé do Arménio, passou-lhe mais depressa. O meu demorou oito dias! O menino não podia caminhar e sempre cheio de febre, porque estava fora do sítio. Assim mandei-lhe rezar três dias.