“É uma tristeza para mim não saber ler”

Não fui para a escola. Na minha altura só se fazia o exame da 4ª classe, mais nada. Mas as raparigas também faziam exame da 4ª. Eu é que não, porque no meu tempo diziam: - “Vai guardar cabras.” Era eu e outras raparigas! Mas no meu tempo quem queria ir para a escola ia, porque nós não tínhamos abono. Mais tarde já obrigavam a ir para a escola, senão não recebiam o abono. Mas quando me criei, não. E de maneira que nunca obrigaram a gente a ir para a escola, porque se a minha mãe fosse obrigada a fazer-me ir para a escola, a gente tinha aprendido. E é uma tristeza para mim não saber ler, porque a gente ainda sabe onde é que há-de apanhar a carreira, mas se for em Pomares ou em Arganil como é? Onde os meus filhos estão a viver é preciso a gente saber em que paragem sai ou em que paragem entra. O saber ler faz-me muita falta e é muito triste. Mas no meu tempo era assim. Era muito diferente.