“A Benfeita com mais vida”

Já tenho poucas ambições para a Benfeita mas gostava de a ver mais povoada. Isso é que eu gostava porque há aqui terras que as pessoas quando se reformam vêm para a sua terrinha. Aqui não. Lá ficam. É raro vir para aqui um reformado. Isso é que eu gostava, de ver a Benfeita mais movimentada porque está morta, não há gente. A maior parte que aqui está é tudo, não digo envelhecido, mas de uma idade avançada, gente nova há muito pouco. A Benfeita com mais vida.

Há aí mais de uma dúzia de viúvas que quando elas morrerem, é casa fechada. E estão todas de 75 para cima. Portanto daqui a 20 anos... A Benfeita está a decair. A coisa que me faz mais pena é essa. Tanta gente que nós aqui conhecemos, tanto movimento que aqui havia.

Já até depois de vir de África, então alguma vez nós dormíamos de manhã? Porque aqui como está cá , as pessoas não respeitam horários. Chegavam-se aqui, ainda às vezes estava eu na cama:

- “Ó Artur vem cá dar um pacote de massa.”

Nunca deixavam dormir. Havia até aqueles indivíduos que queriam matar o bicho, tomar uma bebida de manhã.

- “Ó Artur vem dar um copo de aguardente.”

E a gente nunca dormia a manhã na cama. Estávamos a comer e eu chegava-me a levantar 3/4 vezes para vir atender pessoas. Um esquecia-se dos fósforos, outro esquecia-se da massa, outro do arroz. Hoje estamos descansadinhos.