“Até escrevia bem”

Eu e o meu irmão mais novo andámos na escola perto da Torre do Relógio, em Soito da Ruiva. Eu morava mesmo em frente à escola, era só subir até ao portão, descer a outra escada e estava logo na escola. Já a minha irmã e o meu irmão que está em Lisboa andaram na escola do Sobral Magro. Recordo-me que a minha escola tinha muitas crianças. Eu sentava-me atrás dos outros miúdos. Para escrever tínhamos cadernos e lápis, mas também tínhamos umas pedras. E os livros eram para ler. Para cá só vinham professoras. Para mim algumas eram más, batiam muito. Até escrevia bem, mas dava muitos erros. Quando isso acontecia mandavam logo fazer uma cópia. Recordo-me que estava cá uma professora que batia muito. Ela batia-me muito e, uma vez, a mãe da prima Isilda andava a regar do outro lado numa fazenda e ouviu-me chorar. Chegou a casa e ralhou muito com a minha mãe: - “Ó Laurinda, por que é que tu não vais tirar aquela rapariga da escola, que elas dão-te cabo dela.” Chorava muito. Já não sei quanto tempo andei na escola. Sei que vieram professoras mas depois foram-se embora e estiveram muito tempo sem vir. Quando uma das professoras voltou para dar escola aos miúdos, havia uma malta de raparigas que lhe pediu para nos ensinar à noite. Então, à noite íamos para casa dela. Foi assim que fiz o exame da 4ª classe de adultos em Arganil.