“Antes, era só missa”

Antes a missa era só pelas festas. Só de ano a ano é que cá vinham dizer missa ou quando a mandassem dizer. Às vezes, mandavam-na dizer por alma de outra pessoa, mas isso era raro. Só de ano a ano é que cá vinham pelas festas. Ainda me lembro da igreja antiga, então não lembro! A gente tem que se lembrar porque esta ainda há poucos anos foi feita. Até foram os meus filhos que a fizeram. Lembra-me bem como era a outra. Era mais pequenininha e tinha a porta virada para o outro lado. Agora está para este lado, porque para aqui dava mais jeito. No dia da missa, sempre levávamos uma roupita melhor. Mas quando chegávamos a casa, tirávamo-la para usar no outro ano. Quando íamos a Pomares às vezes às festas e à missa, levávamos um saquito e só lá perto da igreja é que calçávamos os sapatos. E depois tornávamos a descalçá-los e vínhamos a pé, descalços, por aí acima. O sapato ficava sujo por dentro. Às vezes, púnhamos uns papéis por dentro dos sapatos para não sujar. Outras vezes levávamos umas toalhitas velhas e deitávamos aos pés para limpar. Era uma miséria. As romarias da aldeia sempre foram as mesmas. Agora não. Agora fazem-nas até ainda melhor que naquele tempo. Antes, era só missa, mais nada. Não havia procissão, não havia nada. Era só a missa. As romagens que me lembro são as do Vale da Maceira. Lá é que iam fazer romagens. No Soito da Ruiva não faziam. Íamos lá ao Vale de Maceira, onde se juntavam ranchos de gente, que cá havia muita gente. E nós também íamos. Agora, há as festas e a procissão na aldeia. A procissão começou a ser feita há pouco tempo, depois que esta capela foi construída. Primeiro, não. Agora, no dia da procissão, fazem a festa, vão à missa, vão à procissão. E vai toda a gente! Quem pode ir. Vai tudo na procissão. Costumam ser festas muito animadas! Vêm cá os familiares. É um dia muito alegre, mas é só uma vez por ano. Na procissão saem cinco andores com os santos. No fim de recolher a procissão botam as ofertas a lanço. Cá quase toda a gente dá uma oferta. Botam-nas a lanço. No fim de as botar a lanço, as pessoas vêm comer o almoço. O almoço no dia da festa é cada um em sua casa, com as suas famílias. Depois do almoço, vêm à música. De tarde, vem um conjunto, há quermesse, rifas e tudo. Depois, toca a dançar e a cantar. No outro dia é que têm dado o almoço. Vem cá, às vezes, um restaurante servir. Cada pessoa paga um tanto e quem quer ir lá comer, vai, quem não quer, come em casa. Nesses dias, até toda a gente tem em casa o que comer. Mas quem lá quer ir é um convívio. Paga um tanto e vai lá. Não tem preço certo. Há anos que é mais barato. Outros anos sai mais caro, é consoante o que o restaurante leva. E conforme a comida.