“As brincadeiras de criança”

Nas brincadeiras de criança, eu só cá tinha uma colega, que até esteve na França muito tempo, com quem brincava. Ela também era muito amiga de brincar comigo. Ainda há pouco tempo, veio à aldeia e só queria estar ao pé de mim, pois lembrava-se muito das nossas brincadeiras. Naquele tempo, abalávamos as duas, mesmo com o calor, pelo mato, lá por essas lombas acima. Ela ia-me lá chamar e dizia assim a minha mãe: - “Então agora é que vós ides, com tanto calor? Esperai mais logo pelo fresco.” E ela dizia-me assim: - “Nós vamos agora, que agora ninguém nos vê lá ir! Por mais está tudo em baixo.” Era só com ela que eu brincava mais, que as outras nem elas tinham queda comigo nem eu com elas. Eu era assim muito sozinha, porque morávamos no cimo do povo. Éramos muito sozinhas. Elas cá se ajuntavam umas com as outras. Eu e a minha irmã ficávamos sempre sozinhas. Aquela rapariga dava-se muito bem comigo, ia para lá, chamava-me e ia com ela. Brincávamos muito uma com a outra. Às vezes, a coisas que nem tinham caminho. Umas vezes, botávamo-nos a agarrar uma à outra, outras as vezes escondíamo-nos uma da outra. Mas só nós as duas, quando éramos pequenitas. Quando comecei a ir à pedra, ela já se tinha ido para Lisboa e de lá foi para França. Ela já não andou cá à pedra como eu, porque já se tinha ido embora. Era raro ir para o meio do povo. Só quando às vezes lá jogavam à bola, à panela, aos cântaros, eu ia para lá e estava assim a espreitar. Mas as raparigas que lá andavam eram muito maiores do que eu, muito mais velhas. Era uma diferença de uns poucos de anos. Às vezes, de 10 anos. A gente ia para lá só para ver. Não nos íamos lá meter ao pé delas, que elas não nos deixavam brincar. Já eram mais crescidas e nós éramos pequenas. Conforme as idades assim eram as brincadeiras. E a gente lá com aquelas mais velhas não podíamos, porque elas não gostavam até que a gente sequer estivesse ao pé delas.