“A gente nem se namorou”

A bem dizer, a gente nem se namorou, porque ele foi embora para Lisboa e só veio quase quando casámos. Então a gente, se namorou foi por alguma carta, mas as cartas não era eu quem as fazia, nem as lia. Era o meu sogro. Ia lá agora pôr essas coisas, como se fosse eu! Pois, isto foi uma coisa assim... Tinha menos de 20 anos quando fiquei noiva. O meu marido é mais velho três anos. Casámos no mesmo mês em que fiz os anos. Fiz 20 anos no dia 29 de Fevereiro e a gente casou no dia 11 de Fevereiro. Tinha menos de 20 anos. Fui vestida com saia, casaco azul-escuro e blusa branca. Fato inteiro, casaco e saia, o xaile e véu preto. Primeiro, usava-se assim. Isto é muito antigo. Isto de véu branco só foi há pouco tempo. A minha madrinha foi a Madalena e o meu padrinho, era meu primo direito, o Guilherme Bento. Foi um casamento à pobre, em casa dos meus pais. A gente não era rica. Mas comer não faltou. Que havia aí casamentos de serem mais ricos e que não tinham tantas larguezas como nós tínhamos. Ainda assim comer não faltou. Toda a gente que foi, gabou. Não faltou o que comer, o sossego, o convívio, foi tudo do melhor. Depois houve bailarico. Na altura, o meu padrinho de casamento tinha um acordeão e tocou para o pessoal dançar.