“Por cartas”

Na minha altura, o namoro também não era muito à-vontade. O meu marido, que tenho hoje, graças a Deus, passou muito tempo na tropa. Só falávamos por cartas, porque ele esteve 30 meses na tropa, que foi o tempo de namoro, mais ou menos. Depois quando cá vinha, que tempo é que era? Aí um fim-de-semana, mais ou menos. Era pouco tempo. Assim que saiu da tropa casámos. Ele teve que pedir ao meu pai e à minha mãe. Depois foi quase sem se chegar ao pé um do outro. Cá havia pouca gente que fosse casar para fora. Quase que era tudo só da terra, os rapazes de cá casados com as raparigas de cá. O meu casamento foi feito em casa da minha mãe. A minha sogra vivia nesta casa em frente à minha e ajudaram com o que puderam. Mas o casamento fez-se na minha casa. Era muita gente e depois os convidados comiam durante três ou quatro dias, enquanto lá houvesse. A comida do casamento era muitas carnes. Matavam muitos animais, muitas cabras, galinhas. Faziam muitos doces, muitas coisas. A minha mãe e as minhas tias é que fizeram o comer. Não levei vestido. Naquele tempo não se usava vestido. Era um fatinho azul-escuro, um casaco e uma saia azul-escuro, uma blusa branca, um xaile de merino pelas costas e uma mantinha, um véu, na cabeça. Parecíamos umas viúvas! O meu marido levava um fato preto e uma camisa branca. Ainda estão guardados no guarda-fatos. E eu também ainda tenho o meu casaco Tive dois filhos. Chamei-os de Arménio Grácio e Carlos Grácio.