“As pessoas iam para Lisboa”

Depois do casamento o meu marido foi para Lisboa trabalhar na Docapesca, no peixe. A vida dele foi assim. Era ele a trabalhar em Lisboa e eu na agricultura na aldeia. Eu cá criei os meus filhos sozinha. A minha vida foi como a da minha mãe. Sempre sozinhas a cuidar da agricultura e a criar os filhos. Era uma vida triste. Sempre sozinha. Ele, às vezes, vinha para nos cavar as terras para semearmos os renovos e podermos cultivar durante todo o Verão. Há uns anitos que já voltou para a terra, mas agora nós estamos velhos, já se não pode nada. As pessoas iam para Lisboa, porque não havia outros meios de a gente se governar. Iam para ver se ganhavam alguma coisinha para criarem os filhos. Aqui não se ganhava nada. Tinham que ir procurar outro meio. Lá no peixe trabalhava muita gente do Soito da Ruiva. O meu sogro e tios, a malta da família do meu marido, trabalhavam no peixe. Trabalhava lá muita gente de Soito da Ruiva e na cortiça também, principalmente aqueles da idade do meu pai. As mulheres que por lá trabalhavam, que tinham emprego, eram estas senhoras que estavam já em Lisboa. Cá, praticamente, todas viviam só da agricultura, quem cá estava do meu tempo. Hoje ainda há pessoas da aldeia a trabalhar fora. São os que lá estão e que lá têm a vida. Uns já estão reformados e outros ainda lá trabalham. Não sei em que empregos.