“Na Benfeita fazia-se azeite puríssimo”

Fazia-se muito e bom azeite na Benfeita. À maneira antiga, não é como hoje. Este ano eu e a minha mulher ainda apanhámos um bocadinho, temos umas oliveiras, mas não é nada do que era antigamente.

Hoje é através de máquinas, é extraído o azeite com pressão, não sei explicar como é que as máquinas funcionam. Mas, naquele tempo não. O azeite era virgem. A azeitona ia para o lagar, era moída ali num pio, com as galgas. Aquilo ia para umas ceiras, numa prensa. Era espremido, depois com água quente para ajudar a extrair o azeite, o azeite corria para umas pias, para umas tarefas e ali era escaldado. Depois estava ali um certo tempo a assentar que é a borra do azeite que vai ao fundo. Por baixo tinha outra e então o azeite ficava um bocadinho ali por cima.

Agora não, agora é extraído de qualquer maneira. Nem tem a cor que tinha, nem o sabor. O bom ainda aparece aí no supermercado mas custa 20 euros. Custa caro. Mas na Benfeita fazia-se azeite puríssimo. Azeite virgem. Hoje não há nada mas, havia aqui três lagares na freguesia. Um deles também era do meu pai, tinha lá uma sexta parte mas está tudo abandonado, porque também não tem as condições que eles exigem hoje. Naquele tempo aqueles resíduos iam para a ribeira, hoje não consentem isso. Tem que ter umas fossas. Até têm razão mas, naquele tempo, não ligavam a isso. Era assim.

O proprietário do lagar tinha lá a sua equipa arranjada. Uma pessoa tinha a azeitona e eles mandavam lá os homens carregá-la. Ensacavam-na e traziam para o lagar. Depois o senhor ia lá buscar o azeite, mediante uma maquia. Chamavam uma maquia. Era de dez, um. Tinha por exemplo dez litros, tiravam-lhe um. Havia 100 tiravam-lhe dez. Era assim que faziam. E ficavam com o bagaço.