“Tinha 7 anos”

Em Soito da Ruiva havia algumas crianças no meu tempo. No ano em que nasci éramos apenas dois. Mas ainda houve aí anos de nascerem nove e dez. Na escola de Sobral Magro, onde andei, chegaram a andar cerca de 30 e tal alunos da aldeia. Eu andei na escola em Sobral Magro, porque não havia escola na aldeia. Só mais tarde é que construíram uma escola. Recordo-me que veio cá o engenheiro fazer a planta da escola, construída depois junto à Torre do Relógio. Antes de construírem a escola, algumas crianças chegaram a estudar numa casita que havia na aldeia. Mas eu já não andei aqui, fui lá para baixo, no Sobral Magro. Tinha 7 anos quando fui para a escola, onde andei uns três ou quatro anos. Na altura, a gente saía da aldeia de manhã e só aparecia à noite. Com duas sardinhitas ou um ovo frito no meio de um bocado de pão, ou coisa assim, a gente lá andava todo o dia. Tínhamos que ir a pé para o Sobral Magro e demorava mais de meia hora. Assim era todos os dias, para baixo e para cima. Recordo-me que os rapazes e as raparigas ficavam juntos na mesma sala. Os rapazes ficavam num lado e as raparigas noutro. A escola só tinha uma sala. Havia lá outra salita mais pequena, mas era onde a professora ia mudar de roupa. Na mesma sala ficavam todos os alunos de todas as classes até à 4ª classe. Na altura, só se estudava até à 4ª classe. A partir daí, só quem tinha posses é que ia depois estudar para Coja ou Arganil. Naquela altura, as professoras não se interessavam tanto pelos alunos como agora. A gente ia para lá, muitas vezes, para estar a dormir em cima da carteira. E a professora chegava a ter cerca de cento e tal alunos e é natural que uma pessoa só não podia dar volta. Lembro-me que ela ia apertando mais com aqueles que já estavam na 3ª ou 4ª classe, até porque os pais lá lhe iam dando alguns presentezitos. Quase todos os anos, mudava-se de professora. Nunca cá veio professor, era só professoras. Já não me recordo bem do nome delas, mas sei que elas nos davam porrada que eu sei lá. Não é como agora! Agora temos que estar a pau! Vê-se aí na televisão que os alunos até já batem nos professores. Mas isso também é uma falta de respeito dos pais. Naquela altura era diferente. A professora marcava-nos uma tarefa e se não fizéssemos ou se déssemos erros, éramos chamados ao pé dela e dava-nos com uma régua.