“O recado”

Quando começava a sementeira o meu falecido pai e os outros, em dois ou três meses não paravam. Só paravam aos domingos. Era um dia para uma pessoa, amanhã ia ajudar para outra, hoje era para ele e dava assim. Depois era troca por troca. Hoje iam para um, amanhã vinha essa pessoa para ele. Era assim. Às vezes ainda não tinham combinado muito bem e o meu pai não sabia qual é que era o dia que uma pessoa qualquer cavava. Se era aquele dia se não era. Então mandava-se o miúdo ir com o recado. Eu e o meu irmão, íamos à Covita. Chegava-se lá e perguntava-se:

- “Olhe quando é que você cava?”

- “Amanhã.”

E a gente chegava ao pé do meu pai:

- “Ele cava amanhã.”

E a pessoa já sabia. Chamava-se a isso um recado. Às contas que a gente andava a levar recados e trazer recados. Não havia dinheiro. E mesmo a gente tinha algum dinheiro? Quando o pai comprava um rebuçadito aí para nós era uma alegria. Era a coisa melhor que os nossos pais nos podiam dar era um rebuçado.

Cavávamos a terra nas leiras. Enterrava-se estrume e tudo. O mato que a gente ia buscar punha na loja onde tinha as cabras. As cabras estavam lá por cima, faziam as necessidades para cima daquele mato e aquele mato era depois enterrado nas terras para fazer de adubo. Não havia cá adubos nenhuns. Essa porcaria dos adubos também deu cabo das pessoas todas. Antigamente os adubos que havia era estrume. O grande levava na corda, o miúdo levava numa canastra. Havia um canastreiro no Piódão e então a gente levava na canastra. Para plantar por exemplo uns tomates, umas cebolas punha-se estrume miúdo. Para o milho, para o feijão era o estrume grosso. Não havia cá adubos, não havia cá nada dessas coisas.