“Éramos quase 20 e tal alunos”

A escola era no Piódão, aquela que ardeu. Íamos e vínhamos a pé aqui da Foz d´Égua. Não havia estradas, não havia carros. A gente já andava acostumado, mas passava de uma hora e tal. Todos os dias fazíamos aquilo. Lá está a tal coisa que eu digo, antigamente fazia-se muita ginástica. Talvez a gente não tivesse tantas doenças devido à ginástica que fazia. Ir daqui a pé para a escola e depois voltar da escola até aqui.

Nós aqui da Foz d´Égua dávamos para uma escola. Quando foi no meu tempo que eu andei na escola éramos quase 20 e tal alunos. Os do Torno e da Foz d´Égua davam para uma escola. Agora no Torno já não há lá ninguém e aqui está quase também a acabar. Isto vai ser um problema. As aldeias todas a ficarem assim sem habitantes, sem nada, é difícil. O governo também não deita a mão por isto, não fazem nada, só vão para os grandes centros. Lá vivem melhor, trabalham.

A gente passava aí dias que estávamos na escola e começava a nevar. Passávamos do Piódão aqui à Foz d´Égua tudo por cima da neve. Dias a nevar. Outros dias de Inverno, enchia-se a ribeira de água e a gente debaixo da chuva. Já havia guarda-chuvas, compravam-se na feira. Às vezes, o vento levava o guarda-chuva pelos ares e a gente lá vinha. Tinha que andar assim. Vontade tinha a gente de não ir à escola. Era uma alegria se a professora dissesse:

- “Hoje está o tempo mau não se vai à escola.”

Quando enchiam as ribeiras o meu pai ainda ia à procura da gente, mas ficávamos nos Chãs d´Égua. Antigamente era tudo gente boa.

- “Ficam cá os meninos, não vão assim com este temporal.”

Às vezes, um temporal no Inverno e lá ficávamos na casa das pessoas. Mas a gente também tinha vergonha de ir para casa das pessoas ou de pedir. Tínhamos que andar debaixo de chuva. Era muito difícil antigamente andar na escola e tudo.

A gente escrevia em cima de uma mesa, já uma mesa jeitosinha. Tinha uma carteira por baixo. Punha-se os livros por baixo e escrevia-se em cima da mesa. Escrevia já em papel e no quadro também. Por causa disso é que a gente tem doenças.

Levávamos os livros numa sacola assim para trás das costas. Naquele tempo a gente chamava uma sacola, mas é uma mochila. Era daquelas antigas. Era só para trazer os livros. Era uma coisa que tinha uma fita por cima. A gente metia ao pescoço e a coisa virada para trás. Transportávamos assim os livros. Era o que havia naquele tempo. Porque isto já assim há 50 e tal anos.