“Calhou em graça”

Foi no Alentejo que conheci o meu marido. Éramos daqui perto. Ele era aqui da Fajoeira e eu dali de Chãs d'Égua. Mas lá é que nos conhecemos. Ai, arranjaram-se lá muitos namorados! Eu tive só aquele e chegou bem para mim. Para que é que queria mais namorados? Havia lá mais rapazes daqui e dos outros lados. Sei lá por que gostei do meu marido. Calhou em graça! Ele gostou de mim e eu gostei dele. A minha filha também foi só com aquele rapaz que ela namorou e casou! Há 25 anos. Também não quis mais rapaz, só aquele. Gostou dele, ele gostou dela, pronto. Eu não pedi namoro a ninguém! O meu marido é que veio ter comigo! Mas o meu namoro foi de pouco tempo. Foi só um anito e chegou muito bem.

O meu marido teve de pedir autorização aos meus pais. Então os pais é que algum dia deixavam casar os filhos se fossem à vontade deles? Está bem, está! Não há dúvida. Eu sei lá agora como é que era namorar antigamente. Ai agora, já há tanto tempo, já me não lembra. Mas era diferente. Agora, os namorados gostam de andar sozinhos. Ainda ontem a minha neta disse:

- “Ó avó, vai lá para o carro do meu pai, que eu vou aqui mais o Filipe.”

- Então vai, vai-te embora! - disse eu.

Agora é tudo diferente, é tudo... Mas antigamente era assim: chegas para lá que eu chego-me para cá! Não se chegava ao pé dum dos outros! Oh, oh! Os pais não nos deixavam andar à vontade. Ai, ai! Está bem, está. Mandavam um dos outros garotitos, mais miúdos, guardar a gente!

Foi um anito de namoro e, ao fim, tratámos do casamento.