“Vivo bem aqui, estou bem aqui”

Quando cá está a filha ou o rapaz, vou passear. Já fui três vezes a Lisboa. Faz agora sete anos, dia 20 do mês de Outubro, que lá fui para o enterro da minha nora. A minha filha julgava que eu ia para Lisboa. Não vou, não. Então, tenho galinhas, tenho coelhos, tenho o cão... Ah! Disse:

- Vou lá para o Natal! Calai-vos que eu vou lá para o Natal.

Lisboa é bonito. Mas eu ali não andava sozinha como ando aqui! Aqui, devagar, devagar, ainda sou capaz de ir até às Casas Figueiras ou até ao Piódão. Ora, para Lisboa, algum dia saía de casa dos filhos? Então, eu não sei ali nada. Para onde é que eu ia? Para lado nenhum. Não gosto de Lisboa. Bem sei eu por que é. É estar presa em casa e os filhos a trabalhar. Penso: “Não, não me apanhais cá”. Ai, antes quero estar aqui, em Foz d’Égua. É uma terra boa. Vivo bem aqui, estou bem aqui. Gosto da minha casa, gosto da minha fazenda. Não sei se é de estar habituada, mas para mim é melhor.

Agora está tudo desabitado. Aqui há muitas quintas. Primeiro é a Covita, é os Barreiros, a Eira da Bouça, aquelas quintas aos Chãs d'Égua. E depois, para o outro lado, é os Pés Escaldados e, ao fim, é os Moinhos. Antigamente, eram para a gente trabalhar aí na fazenda, para se governar. Cada um amanhava a sua terra e ainda morava lá muita gente. Agora, eles morreram, está tudo desabitado demais. Ali, nos Pés Escaldados, não há ninguém. O meu irmão, que está em França, tinha lá uma casa. Depois, comprou em Mouronho. Ao fim, volta e não volta, vem cá, mas está para Mouronho.