“Assim se passava a mocidade”

Aos serões, se tínhamos uma bata que já não prestava, que era um bocado bom, fazia-se tic, tic, tic, tic, tic com uma tesoira. Fazíamos mais fitas para darmos aos farrapeiros e irmos lá fazer os cobertores. E jogavam um pedaço as cartas, ao serão. Eu não, que não sei jogar, mas os outros jogavam à bisca, jogar de três e muitos jogos... Depois, iam dormir, para o outro dia irem-se para o trabalho.

Logo à beira da casa dos meus pais, ajuntávamos aos grupos a dançar! Os de Chãs d'Égua e outros das quintas, Covita e Moinhos, vinham cá mais abaixo e juntávamo-nos tudo ali. Juntavam-se rapazes e raparigas. Sei lá quantas pessoas tinha, mas ainda era lá assim os grupos. Andávamos a dançar! A música era a flauta! E os rapazes tocavam nos pífaros.

Eu não tinha brinquedos, mas antigamente faziam umas bruxas. Eram umas bonecas com uns trapos. Faz impressão: um bocado dum trapo estava no meio. Depois, enchíamos trapos. Ao fim, arranjávamos assim um touco, dizíamos que era uma bruxa! Quando era no Verão, para fazer a cara, pintavam com umas amoras. Era as bonecas que nós tínhamos.

O ano passado ou há dois anos, ainda chegou aqui para a serra a neve. Mas quando eu era mais nova, via mais neve. Então, faziam bolas para fazer bonecos! Punham-lhe umas “mamilhas” e, ao fim, espetavam com neve naquelas bolas e vem assim um narizinho.

Com alguns 7 ou 8 anos, já trabalhava para os meus pais na fazenda. A gente não fazia nada, mas sempre andava com o sachito. Antigamente era o milho, as batatas, o feijão, a cebola que cá havia. Era o que hoje há. Então, tínhamos de sachar milho e empalhá-lo. Para a batata, punha-lhe estrume aos regos e era com a sachola tic, tic, tic, tic, tic, pia além para se semear. Também tive cabras e ovelhas. Mas não ia para a serra com elas. Oh! Porra! Botava-as aí para as leiras. Então, elas andavam aí na fazenda e a gente sentava-se na ponta de um combro e guardava-as. Assim andando, iam-se embora para o curral. E, pronto, assim se passava a mocidade.