“Cantavam nas debulhas”

A debulha do milho é na altura de Setembro e Outubro. Era à noite. Tinham assim um monte de milho. Estavam os homens tudo à roda com a estaca, tic, tic, tic, tic, tic, e as mulheres escarolavam-no. Ao outro dia, iam tirar o casulo. Os casulos iam para as leiras, para o esterco. Quando aparecia uma espiga preta, davam beijos às outras! Davam abraços às raparigas! E com o milho-raposo também assim era. É um milho que tem os dentes assim rapositos. Em vez de dizerem que era branco e preto e outro vermelho, dizíamos que era o milho-raposo. E cantavam nas debulhas! Era quase só a família. De resto, davam lá uma bucha. Às vezes, ainda comiam queijo ou figos. Outras vezes, era um bocado de presunto e bebiam um copinho. Lá iam eles todos satisfeitos. Os meus cunhados, lá acima, na Fajoeira, ainda têm milho. Eu agora não semeio nada. Para as galinhas compro-lhe a ração, para os coelhos também.