Casamento à revelia

Eu fui tratar do meu casamento sem o meu pai saber! O meu marido era daqui da Fajoeira e eu de Chãs d'Égua. Os meus pais não gostavam lá grande coisa que eu fosse para Fajoeira morar, que era muito longe. Eles não o conheciam bem e eu também mal o conhecia. Ele dali, nós éramos daqui... Eles, muita vez, não iam à missa, nós também não... Não é assim muito longe mas, vá, não nos conhecíamos. Mas o melhor foi vir para a terra dele. Então, um dia, espera lá! Sou bem certa de que o meu pai disse:

- “Então, para onde é que vais hoje?”

- Vou à missa para tratar dos meus papéis - disse eu.

- “Vais agora!”

- Vou! Espera lá para ver se é verdade ou se não é!

Aquela gente até disse que sou muito esperta. Depois era assim o meu pai:

- “Então, olha lá, filha, já trataste dos papéis?”

- Olha, o dia 27 de Agosto é o meu casamento!

- “Pronto, vai à tua vontade, vai, vai, vai” - respondeu ele.

É verdade. E ao fim o meu pai gostava muito do meu marido e a minha mãe também. Ele viu outra coisa! Não se importavam. Ainda bem.

Casei-me, tinha 23 anos. O casamento foi no Piódão. Fomos para o Piódão e do Piódão para cá e não havia estrada saindo naquela altura. Tinha que ir tudo a pé. Passado uma horita, estávamos lá. O meu vestido não era branco. Era saia azul e blusa branca. O meu marido ia com roupa preta, uma camisa branca, já estava. Foi o senhor prior quem nos casou, mas o padre já morreu. Depois fizeram festa. Nos casamentos matavam ovelhas, matavam cabras, coziam no forno e depois era o almoço. Comiam batatas, carne, arroz-doce, pudins, tigeladas, bolos de forno, da fogueira... Eu tive muitos convidados! Ai, passávamos de 20 pessoas! Era mais de 20, era. Tive muita gente e umas prendas ainda bem boas. Recebi muita toalha de mesa e alguns cestos de batatas. Cada um dava aquilo que podia para ajudar.