“Fiz carvão por essas serras”

Também ainda fiz algum carvão aí por essas serras. A arrancar torgas e a queimar. Abre-se uma cova grande no terreno e daí arranca a gente as torgas. Bota lume naquela cova e bota-as para ali todas. A torga é queimada e no fim de ser queimada, a gente agarra em terra e tapa aquilo tudo. Fica tudo tapado. Às vezes, vínhamos de lá já que horas da noite! 11 horas. Não se via. Não havia lua. Não tínhamos luz. Onde é que tínhamos as luzes? Nos olhos! Era tombos aí por esses oiteiros abaixo para virmos embora. Ao outro dia, tirámos-lhe a terra. Íamos tirar aquele carvão para vender a uns que tinham machos. Naquele tempo, era vendido à saca. Era a 12 escudos a saca. Ora, para encher uma é preciso trabalhar. Nós enchíamos três por dia. Carregavam-no no macho e iam-no vender aí por essas terras, para outros lados às camionetas. Depois, ia em camionetas, para um lado e para o outro. A vida da gente é como eu digo: se soubesse ler e começasse a escrever do princípio da minha vida - Deus nos livre! - era um missal, mas um missal daqueles grandes!