“Tanta estrada que ajudei a fazer...”

Andei também muitos anos nas estradas. Vínhamos do Ribatejo, íamos para as estradas. Íamos pedir trabalho aos empreiteiros que andavam nestas florestas de cima. Andavam, também, naquela estrada cimeira, que foi feita pela floresta. Arrancava penedos e cortava pedra com umas picaretas. Fazia paredes daquelas pedras que lá há cortadas em toda a volta, para fazermos o alicerce para passar a estrada. Era tudo a picareta. A pico e a pé. Não era em carro nem nada. Ia lá em cima e voltava por aqui. A gente ia para ali trabalhar de sol a sol. Não amanhecia e já lá tínhamos de estar. Quando anoitecia, vínhamos embora. Há aí tanta estrada que eu ajudei a fazer... Começámos no Vale de Maceira até ao Piódão, por estas serras adiante. Ao fim, ao resto, andava outra malta aqui em Chãs d'Égua, também na floresta. O encarregado dizia-me assim:

- “Ó, Mero, estás na Fajoeira. Amanhã de manhã, vais buscar as folhas para o sábado.”

Ele fazia a folha. Dizia-me:

- “Ó, Mero, está-se a chegar sábado. Vais buscar a folha lá em cima aos Chãs d'Égua e trazes uma para aqui.”

Para ele levar ao senhor engenheiro. Daí é que fazia aquilo tudo.

Andávamos aqui dois meses na estrada até findar o tempo para irmos para o Ribatejo outra vez. Ao fim de aqui andar dois meses, tornámos a ir. Vínhamos de lá, tornávamos a ir pedir trabalho à estrada. Não havia outros meios cá onde se a gente governasse.