“No Piódão é que a gente se namorava”

O namoro de agora é pior do que o do outro tempo. No outro tempo, se eu estava a falar para uma rapariga, já estava a mãe dela ou o meu pai a dizer:

- “Eu logo à noite já te dou o arroz. À noite, eu coço-te em casa. Estás lá de volta da rapariga...”

Chegava o pai dela, também era a mesma coisa:

- “Vem para casa, que eu à noite já te digo como é que já namoras.”

Não podia conversar. Está bem, está! Ai daquele que lá estivesse. Se eu fosse com uma rapariga para o Piódão, diziam assim:

- “Olha, fulano já anda de volta de fulana. Quem sabe já o que eles fariam no caminho!”

Agora, vão para aqui, vão para ali...

Eu conheci a minha mulher no Ribatejo. Também lá trabalhava. Ia de rancho. Ia um rancho de mulheres e ia um rancho de homens. Umas tantas e uns tantos. Comecei a namorar com ela, já tinha 33 anos. Pedi-lhe namoro. Ela pediu ao pai se dava autorização de namorar comigo ou se não. Ele chegou-se um dia ao pé de mim e disse-me:

- “Então, rapaz, andas a namorar com a minha filha? É para seguir ou é para fazeres pouco dela?”

- Por enquanto, será para seguir. - disse-lhe eu

- “Então, podes namorar com ela. Podes vir a casa. Podes ir para um lado e para o outro. Sendo assim, está bem, dou-ta. Agora, se é para fazeres pouco dela, escusas de lá voltar. Ainda levas uma sova.”

Tinha de ir a casa dela namorar, aos domingos. Ela vinha de lá para aqui, para o Piódão. E eu ia da Fajoeira para lá. No Piódão é que a gente se namorava. Daí, quando foi para o resto, já eu ia com ela lá para diante para casa dela. À noite, vinha para cima e ia para casa. O namoro não chegou a um ano.