“No outro tempo...”

No outro tempo, só cá estavam, a bem dizer, duas casas. Estava a casa do meu pai, que se criou aqui. Daí, veio um senhor lá de cima de Chãs d'Égua, que fez outra. Depois, é que vieram fazer mais. Os filhos deram em casarem-se. Uns por um lado, outros por outro. Vieram aí fazer a povoação. Quando eu era pequeno, era uma rapaziada que aí havia. Eu tinha dois, outro tinha um, outro tinha três, outro tinha um, outro tinha três, outro tinha quatro, outro tinha oito. Não havia televisões. As televisões que havia era fazerem filhos.

Foz d'Égua era pequeno. Ainda não haviam estas quintas à volta. Havia só esta povoação aqui pia cima. A casa onde eu estou era de um tio meu. A casa onde se criaram os meus tios já tem perto de 100 anos. Comprei a uma prima minha. Ele tinha posto a uma segunda sobrinha. Comprei e vim para ali. Quando vim, já estava feita. A casa, onde se criou o meu pai, também já estava feita. A debaixo também. Já estavam as casas todas feitas. Só aquela cabeira é que foi feita agora.

Naquele tempo, ainda não havia médicos. Não havia médicos, não havia escolas, não havia nada. Quando a gente se criou não havia cá nada disso. Quando tínhamos já uma certa idade é que havia uns senhores do Piódão, que deram em educar, em puxar aquele pessoal, as crianças e ensiná-los. Os que sabiam mais. Deram ensinar e daí é que deu em aprender. Mas a gente nunca aprendeu, porque já tínhamos uma certa idade. Já andávamos por esses campos, por um lado e por outro. Já não tínhamos nada.

Isto agora está tudo mais modificado que no outro tempo. A aldeia está melhor do que antigamente. O que é antigamente, estava tudo cavado. E agora, não. Antigamente, tínhamos aí um bocado e andávamos a cavá-lo. Tínhamos outro bocado, cavávamos ou mandávamos cavar. Agora está tudo cheio de matos. Acho que aqui é pouco pessoal. É a diferença. Gostava que viesse mais pessoal para cá e que se dessem bem uns com os outros.